Abraão, o “Dizimista Fiel”?
Os que insistem em defender a
ideia antibíblica do dízimo como um preceito ainda obrigatório à igreja, se
arvoram a citar o patriarca Abraão, nosso pai “na fé”, como o maior exemplo, POR
EXCELÊNCIA, de um servo do Senhor que “cumpriu rigorosamente” com a prática do
dízimo atribuindo-lhe até mesmo a alcunha de “dizimista fiel”. Pois bem, vejamos
se tais argumentos, ou melhor, se tais especulações, se sustentam à luz de uma
correta análise dos contextos em que são mencionados o “dízimo” de Abraão.
Primeiramente, creio ser justo perguntarmos sob quais “leis” viveu o patriarca.
Embora pareça estúpida, a seguinte pergunta se faz necessária: Estaria ele (Abraão)
debaixo da lei mosaica? Claro que não, embora o Senhor houvesse feito com ele uma
aliança (ou pacto) que seguramente previa inúmeras promessas de bênçãos específicas
com respeito à sua descendência – Israel (Gênesis 15:18; 17:2,4,7, 10). No
entanto, embora tal pacto mencionasse a circuncisão, jamais incluiu o dízimo! SERIA
A CIRCUNCISÃO SUPERIOR AO DÍZIMO? De fato, a lei somente veio por intermédio de
Moisés mais de 400 anos após a morte de Abrão e nenhuma referência há nas
Escrituras até o “voto” de Jacó, com respeito à regularidade deste preceito.
Vale lembrar ainda que o “dízimo” de Jacó tratou-se de uma promessa (ou “voto”,
como dito antes) feito por ele a Deus, sob a condição de que sua jornada fosse
bem sucedida (Jacó muito provavelmente ali acabou “comprometendo” a terra de
Canaã. Trataremos disto em outro artigo!). E mesmo de Jacó até Moisés, nada
mais é mencionado sobre a prática do dízimo segundo a lei. Vejamos o que diz as
Escrituras: “E Jacó fez um voto, dizendo: Se
Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e
vestes para vestir; E eu em paz tornar à casa
de meu pai, o SENHOR me será por Deus; E esta
pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; E DE TUDO QUANTO ME DERES,
CERTAMENTE TE DAREI O DÍZIMO". (Gênesis 28:20-22). Vale ainda lembrar que o voto
de Jacó foi espontâneo e não uma obrigação legal sobre qualquer tipo de coação.
De igual modo, resta-nos apenas reconhecer que o dízimo de Abraão também foi um
ato voluntário e não o cumprimento de um preceito legal, como mais tarde se
tornaria tão logo o povo de Israel adentrasse a terra prometida (Canaã) (Êxodo
12:25; 13:5). Aliás, seria também justo perguntarmos aos defensores do dízimo old-testamentário
como obrigatório aos cristãos, se o povo israelita, enquanto vagou pelo deserto
por um período de 40 anos, por sua desobediência e incredulidade, “dizimava”
segundo a lei? Acho que o texto bíblico citado (Êxodo 12:25; 13:5) e a completa
ausência de sequer uma referência a tal fato são suficientes para responder a
pergunta! Além disso, muitos outros fatos e evidências deixam claro que o
propósito do dízimo segundo a lei de Moisés não tinha ainda sua razão de ser
enquanto o povo peregrinava no deserto rumo a Canaã. Um outro fato inescapável
aos olhos atentos daqueles que verdadeiramente buscam a verdade é que o dízimo
de Abraão, cujas únicas menções se encontram em Gênesis 14:20 e Hebreus 7:2-4,
referindo-se, é claro, a uma mesma ocasião em que o patriarca “dizimou”, não se
referia às suas posses propriamente ditas, mas aos ESPÓLIOS DA GUERRA que
travara contra os quatro reis que haviam sequestrado seu sobrinho Ló (Gênesis
14:1-20). Isto está claramente exposto no mesmo capítulo 7 e no versículo 4 da
mesma carta aos Hebreus. Cito o trecho: “Considerai, pois, quão grande era este
[Melquisedeque], a quem até o patriarca Abraão deu OS DÍZIMOS DOS DESPOJOS. Não
há como sustentar, portanto, a ideia de que Abraão estava sob a regulamentar
obrigação de “dizimar” de TUDO quanto possuía e muito menos que o fizesse de
modo frequente. Em outras palavras, uma e somente uma é a menção feita nas
Escrituras de que nosso patriarca na fé praticou o dízimo, conquanto não
conforme e jamais sob a obrigação da lei que nem sequer havia sido estabelecida
ainda. Diante disso, pergunto aos defensores do dízimo como obrigatório à
igreja: É justo chamar Abraão de o “dizimista fiel”, quando uma única vez apenas
é mencionado tal fato a seu respeito na Bíblia? Se admitirmos que sim, então,
pela mesma lógica, deveremos aplicar-lhe também a alcunha de “mentiroso
contumaz”, pois a Bíblia menciona ao menos duas vezes em que Ele, por medo
certamente, faltou com a verdade, mentindo e sendo inclusive duramente
repreendido por um rei ímpio! (Gênesis 20: 1-18). Usar de dois pesos e duas
medidas somente os que se atém à conivência interesseira o fazem!
A própria história registra que a
prática do “dízimo” à época de Abraão era um costume bastante comum, sobretudo
entre os povos do oriente. Veja o que diz R. N. Champlin em sua Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia:
“Através das antigas alusões literárias, sabemos que o dízimo existia em muitas
culturas antigas, sob uma forma ou outra. O trecho de Gênesis 14:17-20 nos
informa SOBRE O COSTUME. Antes da lei mosaica sabemos que a prática existia
entre os gregos, os romanos, os cartagineses e os árabes. Ver I Macabeus 11:35;
Heród. 1:89, 4:152: 5:77; Diod. Sic.
5:42; 11:33; 20:44; Cícero, Verr.
2,3,6,7; Xenofonte, Anáb. 5:3, parte
9. Nessas culturas, o dízimo fazia parte da piedade religiosa [E NÃO ALGO
REQUEIRO PELOS DEUSES]” (Pág. 201, II. Dízimo – destaques meus).
Com isso, concluímos que a falácia de muitos quanto à “fidelidade” de Abraão com respeito aos dízimos, o que de fato, Deus jamais requereu dele, fundamentam-se em especulações e “malabarismos” textuais com o único objetivo de manter presos os incautos e desprovidos de conhecimento e discernimento bíblico nas teias do legalismo e, por que não dizer, da idolatria! Que Deus liberte as mentes daqueles que verdadeiramente buscam a verdade!
Com isso, concluímos que a falácia de muitos quanto à “fidelidade” de Abraão com respeito aos dízimos, o que de fato, Deus jamais requereu dele, fundamentam-se em especulações e “malabarismos” textuais com o único objetivo de manter presos os incautos e desprovidos de conhecimento e discernimento bíblico nas teias do legalismo e, por que não dizer, da idolatria! Que Deus liberte as mentes daqueles que verdadeiramente buscam a verdade!
Continuaremos em breve, se Deus assim o permitir, falando acerca do “Voto de Jacó” (Aguardem!)
D. S. Castro.
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