Em Malaquias 3:10, o Senhor diz a Israel (e não à Igreja!):
“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação (Israel, e não a Igreja!). Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa”.
Muitos “pastores”, julgando-se os legítimos “sucessores” dos sacerdotes levitas, ou como alguns costumam dizer, os “levitas da Nova Aliança”, adoram citar a passagem em apreço para requerer dos crentes o que afirmam “pertencer ao Senhor”, a saber, os dízimos, conquanto eles (os ditos “pastores”) julguem-se os responsáveis por administrá-los, dizem eles, “conforme a necessidade da igreja”. Sim, pois conforme interpretam, em Números 18:24, o Senhor diz: “os dízimos dos filhos de Israel... tenho dado por herança aos levitas”, conquanto a maioria deles evita o restante do verso: “porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão”. Só por curiosidade, façamos uma adaptação desta passagem utilizando os termos próprios da Nova Aliança sob a qual se encontra hoje a igreja, inclusive da parte em geral omitida pela maioria dos ditos “pastores”. Creio que teríamos algo, mais ou menos, como segue: “os dízimos dos crentes em Cristo... tenho dado por herança aos “pastores”, porquanto eu lhes disse: No meio dos crentes nenhuma herança terão.
Embora pareça estúpido e até mesmo irônico tal “ajuste” feito em Números 18:24 por este que vos escreve, na prática, porém, de modo convenientemente sutil, é exatamente o que muitos “pastores” e líderes cristãos de hoje estão fazendo parecer. Não estariam de fato eles adaptando as Escrituras àquilo que lhes parece mais propício?
Por outro lado, tratando ainda desta esdrúxula, porém, elucidativa adaptação que fiz da passagem em questão, poderíamos nos perguntar: Que herança teriam os demais crentes, a qual é negada aos ditos “pastores” a quem o Senhor supostamente entregou todos os dízimos dos cristãos? Inúmeras passagens falam de modo inequívoco da herança dos crentes em Cristo, conquanto sempre enfatizando tratar-se de uma herança celestial e nunca terrena, como a que foi prometida especificamente a Israel no Antigo Testamento. Em 1 Pedro 1:3-4, por exemplo, nos é dito: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós”. Seria esta a herança dos crentes à qual seus “pastores” não têm direito por haver Deus supostamente dado a eles a “prerrogativa” de receber os dízimos daqueles? Estou certo de que todo este confuso arrazoado não tem o menor cabimento, embora não duvide que muitos “pastores” já têm recebido seu galardão nesta terra e há muito perderam o “direito” a esta “herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para os verdadeiros crentes”. No entanto, o objetivo destas linhas é mostrar que não há fundamento bíblico nenhum para o que muitos “pastores” e até mesmo “teólogos”, muito dos quais, de renome, estão fazendo! Tomar textos do Antigo Testamento em que Deus fala especificamente ao povo israelita para “formular doutrinas” que supostamente se aplicam à igreja, é uma afronta não somente ao claro ensino das Escrituras, mas também à própria ortodoxia dispensacional – que estabelece à luz da Bíblia uma clara distinção entre a nação israelita e a Igreja, com promessas distintas para ambas (terrenas para Israel e celestiais para a Igreja) – e, sobretudo, uma desproposita agressão ao bom senso e à inteligência dos crentes mais esclarecidos.
Por isso, queridos irmãos e irmãs dizimistas, embora vocês julguem não ser de “vossa conta” (um ledo engano de sua parte, permita-lhe alertá-lo!), responda a você mesmo esta sincera pergunta: o dízimo que você julga ser um dever ou obrigação de todo o crente e que você tem regularmente entregado no “templo” de sua denominação, “pertence realmente ao Senhor” ou, de fato, “ao seu Pastor”? Seu “pastor” tem realmente administrado de modo justo e adequado o que você tem posto em suas mãos? Lembre-se de que na Antiga Aliança não eram apenas os levitas os beneficiários dos dízimos. Além disso, é interessante notar que não eram apenas os levitas que administravam todos os dízimos dos filhos de Israel, mas em geral o próprio dizimista! (Deuteronômio 14:28-29). Isto nos leva, portanto, a seguinte indagação: Dos pelo menos três “tipos” de dízimos mencionados no Antigo Testamento qual deles deveríamos praticar hoje e com que regularidade? De fato, jamais se poderá chegar a um consenso quanto a isto, o que honestamente deveria nos levar a admitir que não estamos mais debaixo deste preceito!
Por um cristianismo autêntico,
D. S. Castro.
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