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Com respeito aos esternos
propósitos [de Deus]... primeiramente, devemos atentar para o fato de que o
Deus da Bíblia não é apenas soberano
no que se refere a Seus atributos pessoais e incomunicáveis. Ele também é infinitamente misericordioso, justo, compassivo, longânimo, e o próprio amor.
Todos os atributos divinos são perfeitos. Deus é perfeitamente soberano,
perfeitamente e infinitamente
misericordioso e compassivo, perfeito em longanimidade e justiça, e o perfeito
amor em sua mais pura e imaculada forma. Além disso, todos os
Seus atributos estão em perfeita harmonia.
Não há qualquer dissonância entre
eles. Em outras palavras, Deus não é soberano, em detrimento de seu amor, ele
não é misericordioso, a despeito de sua justiça e nenhum de seus atributos se
sobrepõe aos demais. Deus é um Ser perfeito em sua santa e eterna natureza.
Em segundo lugar, mesmo
antes da criação de todas as coisas, Deus jamais esteve sozinho em toda a
eternidade. Devemos lembrar que nosso Deus é um Deus triuno, isto é, sua natureza compreende três pessoas divinas: O
Pai, o Filho (que na eternidade passada era a Palavra, e que há Seu tempo
tornou-se o homem Jesus Cristo, possuindo hoje as duas naturezas, a divina e a
humana) e o Espírito Santo (Gênesis 1:26; João 1:1; 1 João 5:7-8).
Se pararmos um pouco para
refletir, veremos que antes da criação do universo (e isto inclui o próprio
tempo), desde a eternidade passada, o primeiro
atributo eternamente manifesto na
Trindade divina foi o amor. Em Lucas
3:22, o Pai diz acerca do Filho: “Tu és o
meu Filho amado, em ti me comprazo”. Em João 3:35 e 5:20, somos informados
de que o Pai ama o Filho (Leia também
João 17:24). E certamente, aquele que glorifica a Cristo, a saber, o Espírito
Santo (João 16:13-15) ama e é amado
pelo Pai e pelo Filho. Portanto, não há dúvidas de que Deus – mesmo antes da
criação dos exércitos celestiais, de cujos detalhes, pela vontade divina,
privam-nos as Escrituras – sempre conheceu
o amor. E mais do que isto, as três pessoas da Trindade divina expressam o
verdadeiro e mais puro amor (sua perfeita essência), cuja natureza é insondável para a limitada mente humana.
Contudo, a despeito de
nossa limitada compreensão, Deus nos deu uma prova inequívoca de Seu eterno amor ao entregar Seu próprio Filho, que
voluntariamente se ofereceu para morrer em nosso lugar (grande é este
mistério), garantindo o único meio possível de salvação, segundo Sua perfeita
justiça, para todo aquele que crê. E não encontrando uma só palavra capaz de expressar a grandeza imensurável deste amor, o apóstolo João (o amado do Senhor), sob a
inspiração do Espírito Santo, escreveu a única sentença cabível ao limitado
entendimento humano com respeito ao amor de Deus por todo o mundo: “de
tal maneira” (João 3:16).
Diante do exposto, é
possível que tenhamos agora uma visão mais clara acerca dos eternos propósitos
de Deus para a Sua criação, o que inclui certamente uma escolha livre por parte
de suas criaturas.
Desde a eternidade
passada, por sua própria e soberana vontade o Deus triuno que é amor, ensejou
criar um universo perfeito, onde suas
criaturas pudessem experimentar este mesmo sentimento que as três pessoas da
Trindade divina nutrem entre si deste toda a eternidade: o perfeito amor. Para isso, seria necessário que Deus criasse um
universo moralmente compatível com
Seu perfeito caráter revelado por meio de Seus atributos pessoais (amor,
bondade, justiça, misericórdia, compaixão, sabedoria, longanimidade, etc.).
Assim, a despeito das discussões filosóficas acerca dos universos possíveis, não restam dúvidas de que somente um universo
com criaturas moralmente livres e
capazes de experimentar livremente um genuíno, perfeito e eterno amor – tal
qual o amor manifesto entre Pai, Filho e Espírito Santo – cumpriria com este
propósito. De fato, o verdadeiro amor só pode ser experimentado por meio de uma
genuína liberdade de escolha. Deus
não queria que suas criaturas experimentassem um amor artificial, nelas implantado
por Ele de modo arbitrário. Ele poderia fazer assim? Claro que poderia! Mas
esta nunca foi Sua intenção. Além disso, Deus também queria ser amado por suas criaturas unicamente por
Ser quem Ele é, e este amor deveria ser autêntico
e espontâneo, e não “programado”,
como a criar alguns para amá-lo e
outros para odiá-lo, como ensina o
calvinismo, embora tentem negá-lo.
Em Sua presciência (algo
que não têm sentido algum dentro do sistema calvinista), Deus sabia que seres
dotados de uma liberdade moral e
capazes de fazer escolhas livres poderiam decidir
rejeitá-lo e se rebelar contra Ele. Contudo, como já deixamos claro a algumas
páginas atrás, o livre-arbítrio não é a causa efetiva do mal, e sim potencial.
Deus sabia que fazendo uso de seu livre-arbítrio, Lúcifer iria se rebelar e
levantar-se contra Seu trono. Ele também sabia que a serpente tentaria a mulher e que o homem iria
sucumbir ao pecado desobedecendo Sua ordem expressa para que não comesse da
árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:16; 3:2). Deus não foi pego
de surpresa, e muito menos resolveu
se arriscar criando seres livres sem
saber o que, de fato, ocorreria. Não! Deus certamente sabia deste a eternidade
passada os rumos que tudo o que houvera criado tomaria, porém, Ele jamais foi a
causa necessária de qualquer evento
subsequente à concessão de uma vontade livre às suas criaturas. A presciência de Deus é um atributo incomunicável da divindade (assim como
sua Soberania), algo que nenhum outro
ser por Ele criado possui. Tal atributo permite que Ele conheça antecipadamente cada ação, palavra ou
pensamento de suas criaturas sem, contudo, causá-las.
Lembre-se que Deus criou o tempo e, por isso, está fora dele. Deus não ocupa um
lugar no espaço físico quadridimencional, pelo que Ele jamais esteve sujeito ao
tempo. Tal entendimento está perfeitamente de acordo com as Escrituras (1 Reis
8:27; Atos 17:24; João 4:24; 1 Coríntios 15;44; 1 Timóteo 6:16; etc.). Os
calvinistas, porém, parecem não conseguir enxergar isso.
O fato de Deus estar
ciente de tudo o que ocorreria à sua criação, não o impediu de efetivar aquilo que Sua perfeita vontade planejou, desde
a eternidade passada, para todos os homens (Mateus 25:34; Efésios 1:4; 1 Pedro
1:20; Apocalipse 13:8; 17:8). É exatamente aqui que encontramos o porquê de Deus haver posto em ação Seu
plano criativo. Como afirmamos antes, em outros termos, Deus intentava ter eternamente a Seu lado criaturas que o amassem verdadeira e genuinamente por
Ser Ele Aquele que as “amou primeiro”
(1 João 4:19). Criaturas que nutram por Ele o mesmo amor que Ele demonstrou por
toda a humanidade (João 3:15-16). E nada
poderá frustrá-lo em Seus eternos propósitos de reunir eternamente para Si aqueles que verdadeiramente o amam. No final de tudo (na consumação dos
séculos), Deus terá diante de Seu trono não somente um exército de anjos que,
fazendo uso de sua livre-escolha, decidiram
amá-Lo e permanecer fiéis a Ele quando da rebelião de Lúcifer, como também uma incontável multidão de verdadeiros
crentes, que por sua livre e espontânea escolha passarão a eternidade louvando
e engrandecendo o Seu Santo Nome (Apocalipse 19:5-7; 21:23-27). Ninguém dentre
aqueles que por toda a eternidade estarão diante Dele nos céus, estará ali por
que Ele o “programou” para amá-Lo. De igual modo, os que passarão a eternidade
no inferno, não foram alvos de Sua rejeição arbitrária, mas estarão ali, por
que decidiram fazer mal uso do livre-arbítrio que Deus lhes
concedeu para rejeitá-Lo e rebelar-se contra Ele.
Note, portanto, leitor,
que o livre-arbítrio é um dom, isto
é, um bem moral que Deus concedeu a
todas as suas criaturas dotadas de um senso racional consciente. E uma vez mais
repetimos: o livre-arbítrio não é a causa efetiva,
isto é, objetiva do mal. Pelo contrário, o livre-arbítrio é um bem dado por
Deus a todos os seres morais criados por Ele. No entanto, fazendo mal uso deste
maravilhoso presente divino, o qual
denota uma legítima liberdade de
escolha, algumas de Suas criaturas decidiram confrontá-Lo, arruinando (apenas temporariamente) Sua perfeita criação.
Finalizo este tópico, me
dirigindo a todos com as seguintes palavras: Deus quer ser amado de
modo genuíno e espontâneo por todas as Suas criaturas, e não porque condicionou somente alguns a isto. Um
amor autêntico e espontâneo requer uma liberdade incondicional de escolha. Pergunte a si mesmo: Você que é esposo e
pai, sente-se realmente obrigado a
amar sua mulher e filhos? E você, meu caro irmão calvinista, realmente crê que
Deus o “programou” para amar sua família e que Ele realmente “preordenou” que
alguns homens e seres por Ele criados cometessem os mais hediondos crimes que
depõem contra Sua própria santidade? Sinceramente, não compreendo como a mente e a consciência
humana sejam capazes de mostrar traços
de misericórdia, justiça, amor, e compaixão mais elevados do que os padrões
divinos? Isto seria uma afronta ao caráter do verdadeiro Deus da Bíblia, além
de um completo absurdo!
[...]
D. S. Castro.
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