Um pai, que tem dois filhos, promete a um deles, com toda boa vontade
de um pai, que lhe dará um presente caso este se dedique aos estudos e passe de
ano com boas notas. Ele foi enfático ao fazer a promessa, ela foi dirigida ao
filho que mais o preocupava com respeito aos estudos, uma vez que o outro era
extremamente dedicado. Agora reflita: Seria correto, ou mesmo justo, que o
filho a quem não foi feita a promessa, exija de seu pai a recompensa por
dedicar-se nos estudos? Não está em jogo aqui o amor do pai para com seus
filhos, mas sua justiça. O fato de o pai haver feito uma promessa específica
apenas a um dos filhos, não o torna injusto para com o outro. É uma questão de
propósito. Provavelmente, o pai queria incentivar o filho menos dedicado a ser
mais responsável com os estudos e, por isso, fez a promessa a ele. O mais
dedicado não recebeu a promessa e, portanto, não tem o direito de exigir coisa
alguma de seu pai. Se, de bom grado, o pai decidir presenteá-lo também, isso é
outra questão.
Bem, acho que me alonguei demais na ilustração, mas vamos à questão
central. Desde o início dos tempos, Deus tem feito promessas de bênçãos aos
homens, algumas delas mediante a exigência de cumprir certas diretrizes por Ele
definidas. A Abraão, por exemplo, [ainda Abrão à época] Ele disse: “Sai-te da
tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te
mostrarei” (Gênesis 12:1). Essa era a exigência para que Abraão e sua
descendência terrena recebessem a promessa: “À tua semente darei esta terra [de
Canaã]” (v. 7 – ver também Gênesis 12:2; 15:18). A Davi, fazendo ainda cumprir
as promessas antes feitas aos patriarcas, o Senhor falou: “a tua descendência
estabelecerei para sempre e edificarei o teu trono de geração em geração”
(Salmo 89:4 – ver também 2 Samuel 7:12). Estes são exemplos de promessas
específicas e terrenas feitas por Deus a homens que Ele escolheu para cumprir
um propósito mais elevado: trazer ao mundo o Salvador de todos os homens.
Outras promessas, contudo, foram dirigidas a toda a descendência de Abraão indistintamente,
porém, sendo terrenas, não se comparam as promessas que Deus faz a Sua Igreja, que,
em geral, são espirituais. Veja, por exemplo, o que está escrito em Salmo
91:16, Êxodo 23:26; Deuteronômio 28:4; Deuteronômio 28:5,8,11,13; Provérbios
3:9-10, etc., e responda: “Foram essas promessas, em sua maioria terrenas,
feitas à Igreja?”. Há quem alegue que a Igreja é o “Israel espiritual” de Deus
e, por isso, todas as promessas feitas ao “Israel terreno” se aplicam hoje,
dizem eles, “em um sentido espiritual”, à Igreja. Qual o fundamento bíblico
para tal ensino? Seria por que Abraão é chamado o “nosso Pai na fé”? Certamente,
em Romanos 4:10-12, Paulo parece nos levar a essa conclusão, contudo, deduzir
daí que somos o “Israel espiritual” de Deus e alvo das promessas específicas
que Deus fez ao, assim chamado, “Israel terreno” é um tremendo abuso da correta
exegese do texto. A Bíblia deixa claro que Deus possui um povo terreno, Israel,
e um povo espiritual, a Igreja, a noiva e corpo de Seu Filho Jesus Cristo e que
é composto tanto por judeus convertidos como por gentios. Estes dois povos são
totalmente distintos e alvos de promessas específicas. A Israel, Deus fez
promessas terrenas, pois trata-se de um povo terreno, que habitará na terra,
futuramente restaurada, para sempre. Já à Igreja, por ser um povo espiritual,
que estará nos céus com Cristo por toda a eternidade, Deus fez promessas de
bênçãos espirituais “nas regiões celestiais” (Efésios 1:3). Além disso, por
hora, as promessas feitas a Israel estão, digamos, “suspensas” por causa de sua
desobediência, e não se aplicam, de modo algum à igreja, que continua sua
caminha como a um peregrino nesta terra, rumo ao céu, sua verdadeira pátria. É
por isso, que, de fato, nenhuma promessa de prosperidade material é feita à
Igreja em toda a Escritura, mas apenas exortações como: “Não ajunteis tesouros
na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e
roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem,
e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mateus 6:19:20); “Se queres ser
perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu...”
(Mateus 19:21); “Não estejais inquietos por coisa alguma...” (Filipenses 4:6); “Tendo,
porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (1
Timóteo 6:8), dentre outras. Apesar disso, inúmeros têm sido os abusos
cometidos por grande parcela deste povo espiritual, que, quer seja por
imaturidade, quer seja por cobiça e apego às coisas desta vida,
inadvertidamente tomam inúmeras das promessas terrenas feitas por Deus
especificamente a Israel, ou a algum personagem em especial do Antigo Testamento,
e a aplicam a si mesmos sempre visando bênçãos materiais, embora aleguem que o
fazem “pela fé” e em um “sentido espiritual”. Estes, de fato, vivem de bênçãos
e não pela fé. À semelhança do filho a quem o pai não fez a promessa, muitos
chegam até mesmo a exigir de Deus que a cumpra em suas vidas como o fez com
aqueles a quem prometeu. Quanta arrogância, meu Deus! Quanta audácia! Quanta
estupidez!... Com que direito e com que prerrogativa temos abusado das
Escrituras, buscando satisfazer nossos próprios desejos egoístas, mascarando
nossas crendices e superstições com uma pseudo-espiritualidade que não somente
afronta a soberania de Deus mas torna-o um escravo de Suas próprias promessas?
Não, Deus não tem nenhuma obrigação de cumprir aquilo que Ele não prometeu a
você, mas a outro! Ele cumpre suas promessas, mas não podemos obrigá-Lo a
prometer! E é exatamente isso que fazemos quanto tomamos, de modo inapropriado,
as promessas de bênçãos que ele fez a outrem e as aplicamos em nossas vidas,
como se assim Ele houvesse nos dito! Por isso, devemos sempre agir com
sobriedade, buscando antes cumprir a vontade de Deus, mesmo que ouçamos Dele o
que não gostaríamos de ouví-Lo dizer ao nos fazer uma promessa. Essa é a
verdadeira atitude de um filho de Deus e discípulo de Cristo. Pense nisso!
D. S. Castro.
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