Alguns acham que não é possível a um cristão viver “isolado”,
isto é, sem estar associado a algum grupo, partido ou denominação cristã. Por
muitos anos, eu também pensei assim. Contudo, mesmo de formação evangélica, e
como membro de uma denominação muito conhecida no Brasil, desde cedo aprendi
com meu pai que os membros de todas as demais denominações cristãs – exceto os
grupos tradicionalmente tidos como “seitas” – deveriam também ser considerados
como “irmãos” em Cristo. De fato, esse ensino essencialmente bíblico, tenho
trazido comigo por todos esses anos, e jamais o negarei, embora hoje, eu não
pertença mais a nenhum sistema eclesiástico aquém dos padrões bíblicos, quer
denominacional ou não, os quais como já expus antes, não nasceram da vontade de
Deus, mas do homem, e – o que é mais grave – em detrimento daquilo que o
próprio Senhor Jesus Cristo, em Sua Palavra, estabeleceu para o Seu Corpo: A
Unidade da Igreja [Não confunda com ‘Ecumenismo’].
No entanto, viver essa prática estando associado a algum
grupo ou “partido”cristão, é um tanto “demagogo”, pois quando somos
confrontados com questões em que divergimos dos demais [em geral, questões
‘não-doutrinárias’], quando não nos privamos de opinar, sempre buscaremos
defender ‘as institutas’ do grupo ao qual pertencemos, isto é, não deixaremos
de “puxar a brasa para a nossa sardinha”, e isto é sempre contraproducente à
causa do Evangelho.
Quando olhamos para o Novo Testamento com um desejo sincero
de entender como se dava a ordem dentro do Corpo de Cristo nos tempos
primitivos, jamais poderemos justificar o que hoje erroneamente se entende por
“igreja” no seio do cristianismo. Refiro-me à liturgia do culto, aos abusos e
distorções acerca dos dons ministeriais, que, por sinal, tornaram-se hoje
“títulos honoríficos” e ao muito conveniente [para os líderes, é claro!]
estabelecimento de hierarquias clericais [Bispos, pastor-presidente,
pastor-assistente, dirigente de congregação, dentre tantos outros cargos e
funções que visam apenas reforçar e fomentar ainda mais uma distinção
antibíblica entre os “diversos níveis” de poder e autoridade dentro da Igreja,
o que tem sido mal interpretado, por pura conveniência]. E o que dizer dos
“leigos” sobre os quais todos estes “líderes” exercem domínio, os quais em
geral estão cegamente sujeitos a eles. Não encontramos esse ensino no Novo
Testamento.
O lamentável, é que dentre os incontáveis erros dentro de
todo esse sistema rigidamente formal [e reforço: ‘humano’] está a ideia de que
aqueles que estão fora dele não são considerados cristãos [crentes], pois,
segundo dizem estão “isolados” dos outros. Alguns até mesmo costumam dizer que
o “tal”crente que assim vive está ou “desviado [afastado] dos caminhos do
Senhor” [não seria da denominação a que pertencia?] ou que o tal “apostatou da
fé”. Esse erro leva a outros, dentre os quais está o fato de que o crente que
não se congrega segundo o padrão estabelecido por esse sistema [o que consiste
em“assistir aos cultos”] pode, como dizem alguns, “esfriar na fé”. Ao que
parece, dentro dessas agremiações cristãs, o “termômetro espiritual” do crente
está, ainda que em parte, relacionado ao numero de “cultos” que ele “assiste”
ou às funções, cargos e “ministérios” que ocupa dentro da hierarquia
mencionada.
Há aqueles que até mesmo chegam a criar princípios e “frases
de efeito” para supervalorizar suas práticas com respeito à questão do culto:
“Cada culto perdido é uma benção a menos!”, “Perder o culto é perder a benção”,
e outros jargões semelhantes. Meu Deus, quanta ignorância, quanta imaturidade,
quanta PRESUNÇÃO...
Não raras vezes, usando de uma exegese pouco recomendada,
tomam textos das Escrituras e o interpretam a fim de apoiar suas convenções
pré-concebidas e convenientemente estabelecidas. Por exemplo, tomando o texto
de Hebreus 10:25, que diz “não deixando a nossa congregação, como é costume de
alguns”, dizem que não devemos abandonar à “igreja” [referindo-se à
denominação, é claro!], pois, com isso, estaremos deixando os caminhos do
Senhor, isto é, nos “desviando”.Ora, o texto em questão não está sequer fazendo
menção, mesmo remotamente, sobre “igreja” ou denominação, mas à prática de nos
congregarmos com aqueles que comungam a mesma fé, fundamenta unicamente nas
Escrituras. “Congregação” aqui significa reunião e não “igreja” [templo físico,
edifício de tijolos, etc.] e muito menos “organização humana” [denominação,
seita, partido, etc.]. Repito: “Congregar”refere-se ao ato de se reunir com os
que com um coração puro invocam ao Senhor (2 Timóteo 2:22). E isto todos os
cristãos fazem, e de forma muito mais livre e autêntica [na liberdade do
Espírito, é claro!], quando o realizam unicamente sob a direção do Espírito
Santo, tendo apenas Cristo como centro (Mateus 18:20), e não o homem, como não
raras vezes se vê nos sistemas denominacionais, onde a formalidade imposta pela
chamada “ordem” do culto acaba inibindo a liberdade do Espírito, que é impedido
de usar a quem quer e como quer, pois um “roteiro”deve ser seguido. Além disso,
as ditas “autoridades eclesiásticas” acabam por inibir também os ditos
“leigos”, a quem Deus deseja usar com um dom que Ele concedeu por Seu Espírito,
em nome de uma suposta “ordem” no culto. Seria possível, nesse sistema, alguém
que recebeu o dom de exortação, por exemplo, repreender o dito “pastor” que
anda de maneira inconveniente e dissoluta?
Com
total isenção e sem usar de parcialidade, responda a você mesmo: Você consegue
ver no Novo Testamento o tipo de “culto”, ou toda a liturgia formalizada, tão
amplamente aceita e praticada hoje nas incontáveis denominações cristãs?
Apesar
do tom jocoso de minhas declarações logo abaixo, creio que elas podem muito bem
refletir [excetuados os exageros da sátira proposta, é claro!] a prática
corriqueira nos ditos "cultos" de grande parte das
"igrejas" que existem por aí hoje:
“Canta mocidade, canta coral, canta o
irmão ou irmã que chegou cedo só para poder colocar seu nome no roteiro, canta
o metido a ‘cantor gospel’, ‘canta o galo’ [seria o mesmo que cantou quando
Pedro negou Jesus? Só faltava essa!]. Enfim, nos últimos minutos do ‘culto’, o
‘pastor’,ou outro ‘obreiro’, que foi ‘revelado’ ao pastor, deveria entregar a
mensagem, traz a ‘tão esperada’ PALAVRA DE VITÓRIA!”
Isso
tudo não lhe parece familiar? Pois é, infelizmente é isso o que muitos hoje
conhecem por culto cristão, mas que não resiste a uma honesta análise à luz das
Escrituras! Pense nisso!
D.
S . Castro.
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