Leitura: Hebreus 13:17
“Saiamos, pois, a ele [a Cristo], fora do arraial, levando o seu
vitupério”.
Para muitos cristãos ainda associados a algum dos
incontáveis sistemas denominacionais existentes hoje na cristandade, não parece
muito clara a ideia de como alguém que também se diz cristão possa não
pertencer a nenhuma dessas associações. Erroneamente, alguns creem que se uma
pessoa não faz parte de um grupo específico de cristãos, devidamente
identificado por uma espécie de “rótulo ministerial” – os assim chamados
“ministérios denominacionais” – essa tal pessoa não está, de fato, vinculada a
Cristo, pois não há qualquer menção nas Escrituras – afirmam os que defendem
essa ideia – de que um cristão possa viver “isolado”.
Primeiramente, é
importante deixar claro que toda essa confusão existente hoje na cristandade
com respeito às inúmeras facções, partidos, seitas e denominações cristãs, com
seus incontáveis ministérios e subdivisões, não tem qualquer respaldo ou fundamento bíblico e, embora Deus, por
sua longanimidade para com o Seu povo – os santos, a Igreja – continue
tolerando esses e outros abusos da carnal insensatez humana, Ele jamais aprovou
a persistente afronta daqueles que insistem em manter-se partidários desses
sistemas, mesmo depois – o que lhes agrava ainda mais a culpa – de terem sido
confrontados com o mais claro e genuíno ensino das Escrituras expondo e
condenando todo o erro por detrás desses sistemas ou ordens puramente humanas
impostas sobre os membros do corpo de Cristo. É incontestável, por exemplo, pelo
próprio contexto, a aplicação de 2
Coríntios 1:12 e 3:4 à enorme e
lamentável confusão tão presente hoje no meio da cristandade. A mesma
carnalidade que deu origem as divisões entre os coríntios, tem sido a causa das
inúmeras divisões que por séculos têm afligido a Igreja de Cristo. Nenhuma
denominação, seita ou partido cristão está isento, portanto, da culpa por este
pecado, ainda que com as melhores intenções tenham elas sido estabelecidas por
homens piedosos e tementes a Deus, mas que fracassaram – alguns por ignorância,
outros por omissão – em dar este lamentável passo em direção contrária à
perfeita vontade de Deus para o Seu povo, fomentando ainda mais este triste erro
secular que nos tem privado da mais plena e genuína comunhão que deveria haver
entre todos os membros do corpo de Cristo à semelhança do que será no céu
(Mateus 6:10).
Em segundo lugar, aqueles
que decidiram separar-se de toda essa confusão, cientes da desonra e do triste
testemunho para o mundo que toda essa ordem humana tem trazido ao santo nome de
Cristo, não o fizeram por que desejaram “isolar-se” como pode parecer aos que
não têm tido a coragem necessária para pôr em prática aquilo que a Palavra de
Deus estabelece como Sua perfeita vontade para os que desejam cumpri-la. Aliás,
Deus está disposto a revelar Sua perfeita vontade, mas apenas aos que desejam
pô-la em prática, e não àqueles que apenas desejam conhecê-la (João 7:17). Querer ‘conhecer’ não é suficiente, é
preciso querer ‘fazer’! Em 2 Timóteo 2:20, ao apresentar a cristandade como
uma ‘grande casa’ Paulo nos instrui a nos ‘purificarmos destas coisas’, para
que sejamos ‘vasos para honra’. De que coisas devemos nos purificar? Certamente
de tudo aquilo que desonra o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o que inclui
toda esta confusão causada pelos ‘vasos de desonra’ também presentes na grande
casa. Paulo nos diz ainda que somente um ‘vaso de honra’ está preparado para
‘toda boa obra’. Pergunto: Algum membro do corpo de Cristo, associado a um
grupo cristão em particular poderá, em todos os aspectos, ter plena liberdade
para tratar com os membros do corpo do Senhor atrelados a outro grupo distinto?
Não creio que ele tenha essa liberdade e, portanto, em seu testemunho cristão ele não estará assim preparado para TODA
boa obra que o Senhor queira usá-lo. ‘Purificar-se destas coisas’ significa,
portanto, ‘separar-se’ da desordem presente na grande casa, contudo não para
viver “isolado”, pois de fato a Bíblia não nos recomenda isto, embora em
circunstâncias extremas não exista outra saída para os que querem cumprir a
vontade de Deus e viver para a Sua glória. A Bíblia e a própria história
registram incontáveis exemplos de homens que se levantaram contra tudo aquilo
que desonrava o santo nome do Senhor e que, por isso, foram perseguidos,
desprezados, e até mesmo torturados e mortos por decidirem não tomar parte
naquilo que suas consciências expunham como um agravo à santidade que Deus
requer de Seu povo. Eles pagaram um alto preço por decidirem ‘separar-se’ do
erro. Quantos hoje estão dispostos a pagar esse preço e a mostrar que o ‘nascer
de novo’ é uma questão de ‘natureza’ e não de afiliação a uma instituição ou
ordem humana? Quantos?
Finalmente, a passagem
da leitura (Hebreus 13:17) nos conclama a sairmos do que hoje poderíamos chamar
de “arraial” da cristandade, com todos os seus ofícios e tradições, muito
semelhantes ao que se via no arraial do judaísmo, e a sofrer o vitupério, isto
é, a desonra que Cristo sofreu por romper com tudo aquilo que Sua morte na cruz
anulou definitivamente. Contudo, devemos estar cientes de que assim como Cristo
não recebeu a honra dos homens ao romper com aquelas tradições, também não
receberão o louvor dos homens àqueles que decidirem separar-se desta confusão
no atual “arraial” da cristandade. Pense nisso!
D. S. Castro.
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