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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O Pai lhe prometeu isso?... Será?!



Acompanhe a ilustração:
 
Um pai, que tem dois filhos, promete a um deles, com toda boa vontade de um pai, que lhe dará um presente caso este se dedique aos estudos e passe de ano com boas notas. Ele foi enfático ao fazer a promessa, ela foi dirigida ao filho que mais o preocupava com respeito aos estudos, uma vez que o outro era extremamente dedicado. Agora reflita: Seria correto, ou mesmo justo, que o filho a quem não foi feita a promessa, exija de seu pai a recompensa por dedicar-se nos estudos? Não está em jogo aqui o amor do pai para com seus filhos, mas sua justiça. O fato de o pai haver feito uma promessa específica apenas a um dos filhos, não o torna injusto para com o outro. É uma questão de propósito. Provavelmente, o pai queria incentivar o filho menos dedicado a ser mais responsável com os estudos e, por isso, fez a promessa a ele. O mais dedicado não recebeu a promessa e, portanto, não tem o direito de exigir coisa alguma de seu pai. Se, de bom grado, o pai decidir presenteá-lo também, isso é outra questão.
 
Bem, acho que me alonguei demais na ilustração, mas vamos à questão central. Desde o início dos tempos, Deus tem feito promessas de bênçãos aos homens, algumas delas mediante a exigência de cumprir certas diretrizes por Ele definidas. A Abraão, por exemplo, [ainda Abrão à época] Ele disse: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis 12:1). Essa era a exigência para que Abraão e sua descendência terrena recebessem a promessa: “À tua semente darei esta terra [de Canaã]” (v. 7 – ver também Gênesis 12:2; 15:18). A Davi, fazendo ainda cumprir as promessas antes feitas aos patriarcas, o Senhor falou: “a tua descendência estabelecerei para sempre e edificarei o teu trono de geração em geração” (Salmo 89:4 – ver também 2 Samuel 7:12). Estes são exemplos de promessas específicas e terrenas feitas por Deus a homens que Ele escolheu para cumprir um propósito mais elevado: trazer ao mundo o Salvador de todos os homens. Outras promessas, contudo, foram dirigidas a toda a descendência de Abraão indistintamente, porém, sendo terrenas, não se comparam as promessas que Deus faz a Sua Igreja, que, em geral, são espirituais. Veja, por exemplo, o que está escrito em Salmo 91:16, Êxodo 23:26; Deuteronômio 28:4; Deuteronômio 28:5,8,11,13; Provérbios 3:9-10, etc., e responda: “Foram essas promessas, em sua maioria terrenas, feitas à Igreja?”. Há quem alegue que a Igreja é o “Israel espiritual” de Deus e, por isso, todas as promessas feitas ao “Israel terreno” se aplicam hoje, dizem eles, “em um sentido espiritual”, à Igreja. Qual o fundamento bíblico para tal ensino? Seria por que Abraão é chamado o “nosso Pai na fé”? Certamente, em Romanos 4:10-12, Paulo parece nos levar a essa conclusão, contudo, deduzir daí que somos o “Israel espiritual” de Deus e alvo das promessas específicas que Deus fez ao, assim chamado, “Israel terreno” é um tremendo abuso da correta exegese do texto. A Bíblia deixa claro que Deus possui um povo terreno, Israel, e um povo espiritual, a Igreja, a noiva e corpo de Seu Filho Jesus Cristo e que é composto tanto por judeus convertidos como por gentios. Estes dois povos são totalmente distintos e alvos de promessas específicas. A Israel, Deus fez promessas terrenas, pois trata-se de um povo terreno, que habitará na terra, futuramente restaurada, para sempre. Já à Igreja, por ser um povo espiritual, que estará nos céus com Cristo por toda a eternidade, Deus fez promessas de bênçãos espirituais “nas regiões celestiais” (Efésios 1:3). Além disso, por hora, as promessas feitas a Israel estão, digamos, “suspensas” por causa de sua desobediência, e não se aplicam, de modo algum à igreja, que continua sua caminha como a um peregrino nesta terra, rumo ao céu, sua verdadeira pátria. É por isso, que, de fato, nenhuma promessa de prosperidade material é feita à Igreja em toda a Escritura, mas apenas exortações como: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mateus 6:19:20); “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu...” (Mateus 19:21); “Não estejais inquietos por coisa alguma...” (Filipenses 4:6); “Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (1 Timóteo 6:8), dentre outras. Apesar disso, inúmeros têm sido os abusos cometidos por grande parcela deste povo espiritual, que, quer seja por imaturidade, quer seja por cobiça e apego às coisas desta vida, inadvertidamente tomam inúmeras das promessas terrenas feitas por Deus especificamente a Israel, ou a algum personagem em especial do Antigo Testamento, e a aplicam a si mesmos sempre visando bênçãos materiais, embora aleguem que o fazem “pela fé” e em um “sentido espiritual”. Estes, de fato, vivem de bênçãos e não pela fé. À semelhança do filho a quem o pai não fez a promessa, muitos chegam até mesmo a exigir de Deus que a cumpra em suas vidas como o fez com aqueles a quem prometeu. Quanta arrogância, meu Deus! Quanta audácia! Quanta estupidez!... Com que direito e com que prerrogativa temos abusado das Escrituras, buscando satisfazer nossos próprios desejos egoístas, mascarando nossas crendices e superstições com uma pseudo-espiritualidade que não somente afronta a soberania de Deus mas torna-o um escravo de Suas próprias promessas? Não, Deus não tem nenhuma obrigação de cumprir aquilo que Ele não prometeu a você, mas a outro! Ele cumpre suas promessas, mas não podemos obrigá-Lo a prometer! E é exatamente isso que fazemos quanto tomamos, de modo inapropriado, as promessas de bênçãos que ele fez a outrem e as aplicamos em nossas vidas, como se assim Ele houvesse nos dito! Por isso, devemos sempre agir com sobriedade, buscando antes cumprir a vontade de Deus, mesmo que ouçamos Dele o que não gostaríamos de ouví-Lo dizer ao nos fazer uma promessa. Essa é a verdadeira atitude de um filho de Deus e discípulo de Cristo. Pense nisso!
 
D. S. Castro.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O Perigo das Traduções Tendenciosas


Até que ponto pode ir a irresponsabilidade de um pretenso tradutor do texto sagrado, cujos louvores por sua suposta erudição no que se refere às línguas originais são como vinho suave a degustar-se por aqueles que se beneficiam dela?

Em minhas constantes pesquisas sobre as versões e traduções da Bíblia não consigo deixar de me surpreender com os disparates que, não raras vezes, encontro no produto final de vários desses projetos “iluminados” que visam recuperar o que, segundo seus proponentes, foi perdido há séculos, a saber, o texto original das Escrituras. Ontem, ao buscar uma passagem em minha Bíblia Online (Versão 2.0), um aplicativo desenvolvido sob licença da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), fiquei estarrecido com o li em Romanos 8:20, na hoje tão cegamente louvada paráfrase das Escrituras conhecida como Bíblia na Linguagem de Hoje, que em sua verão mais moderna chama-se Nova Tradução na Linguagem de Hoje. O que para alguns de mente tendenciosa ficaria muito bem como um comentário de rodapé em uma das incontáveis Bíblias de Estudo comercializadas hoje, cada uma delas editada “ao gosto do freguês”, é descaradamente inserido no corpo do texto, não apenas adulterando o seu contexto imediato e o inteiro ensino das escrituras sobre o tema, mas pervertendo o caráter e o propósito eterno de Deus para toda a criação. Veja a afronta:

Pois o Universo se tornou inútil, não pela sua própria vontade, mas porque Deus quis que fosse assim
(Romanos 8:20 – BLH – ênfase acrescentada).

Deus QUIS que o Universo se tornasse INÚTIL?!!!!

(Continua)...

Ensaio: A Questão do Dízimo

Dizimar segundo a Lei ou contribuir segundo a Graça?

 
 Experimente propor a um dito “dizimista fiel” a distribuição do “dízimo” que, segundo ele, é consagrado ao Senhor – como se não fora toda a vida do verdadeiro crente – entre os mais desafortunados de sua “igreja”, consciente de que sua atitude não resultará em qualquer ônus aos cofres de sua denominação. A grande maioria, provavelmente responderá algo como: “Não, o dízimo é do Senhor! É um mandamento, uma prova de minha fidelidade! Posso muito bem cumprir o proposto sem lançar mão do que é consagrado a Deus! Não posso roubar o Senhor!”. E não será surpresa se ele citar a tão famosa pedra angular da doutrina “old-testamentária” – Malaquias 3:16. Com todo respeito, tal atitude demonstra claramente uma completa, imatura e perigosa dependência de algo que a Bíblia não impõe a nenhum cristão! O dízimo é bíblico? Sim, é bíblico. Mas não é para a Igreja! E nem poderia ser! O dízimo, tal qual a circuncisão, a primogenitura, o levirato, a guarda de dias, etc., pertencem à lei dada por Deus a Israel. Pergunto: Vivemos ainda na dispensação da lei? Foi a lei totalmente abolida, ou teria sido apenas parcialmente? Seria a “lei” de Cristo – a graça – uma extensão ou um remendo da lei mosaica? Não, a graça é algo novo, sem qualquer relação com a lei (Mateus 9:16; Marcos 2:21). Por que aqueles que defendem o dízimo como obrigatório à Igreja, não praticam, ou cumprem, também os demais pontos da lei? Sim, pois certamente a falha em cumprir um de seus pontos, acarreta ao faltoso a culpa por infringir toda a lei (Tiago 2:10).
 
Na tentativa de defender a validade – e obrigatoriedade – do dízimo para o cristão, costuma-se recorrer a divagações e especulações das mais diversas, algumas até justas e imbuídas de princípios louváveis de reconhecimento da bondade de Deus para conosco e da generosidade para com nossos irmãos na fé, sobretudo para com os que se dedicam exclusivamente à assembleia dos santos. Contudo, cabe aqui a pergunta: O que nos ensina o Novo Testamento sobre as questões da contribuição em assembleia não seria suficiente para manter o pleno funcionamento do corpo de Cristo? Em I Coríntios 9:7, Paulo nos recomenda [ele não nos impõe]: Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. Certamente, vemos aqui uma responsabilidade de cada crente em amparar a Casa de Deus, Sua Igreja, Seu Corpo e não o Templo, a Casa do Tesouro, que já não existem mais, e nunca foi uma realidade para a Igreja de Cristo [composta tanto por judeus quanto gentios]. Porém, essa responsabilidade não é imposta por ditames legais e nada tem a ver com a prática do dízimo, pertencente ao Antigo Testamento e requerida apenas para Israel.
 
Há ainda aqueles que, mediante argumentações falaciosas e sem qualquer fundamento bíblico, recorrem a 1 Coríntios 16:2 associando-o à caduca prática do dízimo. Vejamos o que diz o texto: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que, por cartas, aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”. Lançando mão da expressão “conforme a sua prosperidade” se apressam a declarar os que se contorcem para defender a validade do dízimo para a Igreja: “Vejam, irmãos! Paulo está nos ensinando o princípio do dízimo, pois nada é mais justo do que contribuir conforme a sua prosperidade!”. Confesso que por vezes, eu, quando preso a esse dogma por achar que estava honrando a Deus, racionava, como muitos, da seguinte forma: “Qualquer que seja a sua renda, Deus requer apenas os ‘10% que Lhe pertencem’. O que pode ser mais justo do que isso?”. Como matemático que sou por formação, eu ainda assinava em embaixo, dizendo: “De fato é justo!”. Mas divagações ou especulações não estabelecem verdades. Voltando ao texto, vejamos: Será que o fato de Paulo haver dito “conforme a sua prosperidade” restringe a contribuição à décima parte dos rendimentos do contribuinte? Não creio! Paulo não está nem mesmo pedindo emprestado do Antigo Testamento qualquer suposto tipo ali presente e que remeta à prática que aqui ele recomenda [não impõe] aos coríntios, como o fez em outras ocasiões. Uma outra pergunta, que faço com toda a honestidade possível é: Quem nomeou como sacerdotes levitas [se é que isso era possível] o apóstolo Paulo ou seus representantes, os quais eram responsáveis por receber o suposto “dízimo” dos coríntios e levá-los a Jerusalém? Aliás, todos sabemos que o Templo israelita ficava em Jerusalém, mas pergunto: Estaria Paulo levando o tal “dízimo” às autoridades no Templo? E o que dizer de sua destruição no ano 70 d.C.? Onde o “dízimo” passou a ser entregue?
 
De fato, não há como relacionar a prática do dízimo à vida e piedade cristã. Nem como princípio! Não necessitamos de “remendos velhos em pano novo”. A “lei” da graça é maior, e é perfeita! Devemos reconhecer que as únicas razões pelas quais esta “doutrina” mosaica ainda é praticada e, por que não dizer, imposta a muitos ainda hoje, e totalmente fora de seu contexto específico, são a avareza de muitos daqueles que supostamente são tidos como os sucessores dos levitas, o que não se sustenta à luz das Escrituras, e a ideia de que a assembleia não cumprirá com sua responsabilidade de amparar os que obram por ela se isto não lhe for exigido “legalmente” ou sem que haja o mínimo de coação para que o façam.
 
Finalizando, pergunto: É o dízimo anterior à lei? E se for, isso o tornaria uma prática obrigatória e necessária à Igreja? Quais os pressupostos? Essas e outras questões, se possível, ainda serão tratadas mais adiante!
 
Rascunho de ensaio sobre o dízimo - (Ainda não concluído!)
D. S. Castro.