ALGUÉM COM QUEM DEBATI CERTO DIA,
me disse um tanto indignado: "A Apologética é destrutiva, ela divide,
causa inimizades, não contribui com o crescimento da igreja...".
Não exporei aqui a pessoa e nem a
resposta que dei à sua infeliz
declaração; apenas farei uma breve análise de seu posicionamento com respeito
ao assunto à luz das Escrituras.
Em primeiro lugar, devo
esclarecer que ao referir-se à Apologética, o autor desta “máxima” tinha em
mente a Apologética Cristã, pois era disto que estávamos tratando.
Pois bem, a Apologética é de fato
"destrutiva, divide, causa inimizades e não contribui com o crescimento da
igreja"? A resposta não pode ser outra senão um uníssono "DE MODO
ALGUM"!
Se isto é verdade, perguntamos: O
quê a Apologética destrói exatamente?
Em que sentido ela divide? Que
espécie de inimizade ela causa? E por
que ela seria um empecilho ao
crescimento da igreja? As respostas serão dadas ao final do texto.
Em segundo lugar, devemos reconhecer
que seria bastante estranho que a legítima
defesa da fé cristã causasse tantos
prejuízos ao Corpo de Cristo, visto que as Escrituras nos recomendam a “batalhar
pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3). Portanto, ou a Bíblia está
errada, ou os que pensam que a Apologética é um empecilho à causa de Cristo, de
fato, não sabem o que ela representa e qual o seu propósito no compete à fé e à
sã doutrina.
Ninguém honestamente poderia
negar que o apóstolo Paulo foi um grande defensor da fé cristã e, portanto, um apologeta (talvez o maior de todos). Ele
repreendeu aos cristãos coríntios por sua tentativa de formar “facções” dentro
da igreja (1 Coríntios 1:12; 3:4); censurou energicamente
os gálatas por estarem tentando, por meio da circuncisão, “justificar-se pelas
obras lei”, aos quais também declarou que os que assim procediam “da graça
haviam caído” (Gálatas 5:4); reprovou de igual modo a atitude dos colossenses
por ainda insistirem em se apegar “aos rudimentos do mundo”, mesmo já havendo
eles “morrido com Cristo” (Colossenses 2:20-23); exortou Timóteo a manter uma
postura firme em defesa da fé e da sã doutrina (2 Timóteo 4:1-5), e assim por
diante.
Paulo,
sempre preocupado com as igrejas locais por onde passou, chegou até mesmo a dizer:
“Eu
de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda
que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Coríntios
12:15).
E
aos efésios, o apóstolo dos gentios admoestou:
“Até
que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a
homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos
inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos
homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em
tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:13-15).
Tito
também foi enfático ao declarar:
“Retendo
firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto
para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes"
(Tito 1:9).
Diante
tais declarações (e de muitas outras), não nos parece razoável crer que a
Apologética seja algo negativo no seio do verdadeiro cristianismo.
POR
OUTRO LADO, sob uma perspectiva mais
coerente com as Escrituras, podemos em certo sentido afirmar que a
apologética realmente é “destrutiva”, “divide” e até mesmo “causa inimizades”,
porém, ela jamais será um obstáculo
para o crescimento da igreja. Pelo contrário, é o exercício da genuína Apologética
que
manterá a igreja pura e livre dos fermentos doutrinários daqueles que têm
tentado perverter o Evangelho.
Mas
alguém dirá: “Você não acabou de afirmar que a Apologética não é “destrutiva”,
não “divide” e nem mesmo “causa inimizades”?”. Não se apresse... Isto não é
linguagem ambígua!
Note
que, sob a ótica bíblica, a Apologética pode ser considerada como “destrutiva”
no sentido de que por meio de sua correta aplicação por aqueles a quem Deus
levantou com o propósito de defender a fé, ela é capaz de aniquilar os ardilosos ensinos dos inimigos da Cruz; sua ação efetiva também poderá causar “divisão”,
porém não no Corpo de Cristo; de fato, por meio de uma Apologética bíblica e
responsável, os crentes fiéis serão verdadeiramente conhecidos dentre aqueles
que furtivamente têm se infiltrado no seio da igreja para disseminar heresias
de perdição (1 Coríntios 11:19; 2 Pedro 2:1, etc.). Além disso, a verdadeira
Apologética cristã não está dissociada da pregação do genuíno Evangelho, de
sorte que ela certamente produzirá “inimizade”, porém não entre os verdadeiros
servos do Senhor, mas entre a igreja e o mundo (2 Coríntios 6:14; 1 Tessalonicenses
5:5; etc.).
Lamentavelmente,
muitos “crentes” hoje já não valorizam mais este tão importante aspecto (na
verdade, um dever) do testemunho cristão, a saber, a defesa da fé e da sã doutrina.
A tolerância indiscriminada “dá o tom” do cristianismo atual. Poucos são os que
com coragem e ousadia têm se levantado em defesa da pureza doutrinária. Vivemos
em meio a uma geração cristã apática, acomodada, de braços cruzados. Muitos são
os que, a despeito de se dizerem cristãos, não apenas têm promovido uma deplorável
“unidade” que faz graves concessões a doutrinas fundamentais do Evangelho, como
há tempos têm andado de mãos dadas com o pecado e o mundo. A esta eclética e
antibíblica filosofia que impera em nossos dias o que importa de fato é
unicamente a promoção de um amor subjetivo,
cego e acrítico, onde não há mais lugar para o necessário exercício do juízo (com sobriedade e discernimento) sobre
o pecado com vistas a corrigir os que andam no erro. O exemplo dos bereanos
(Atos
17:11) já não é mais uma opção viável em meio a este lamentável cenário;
sobretudo quando a conveniência fala mais alto.
Para
os crentes fiéis, no entanto, a Apologética está longe de ser vista como
prejudicial à igreja (como já destacamos acima), e embora tenha se tornado uma persona non grata para a “igreja” atual,
e uma ameaça à unidade global que preparará o cenário para os acontecimentos
finais, ela jamais foi tão necessária quanto hoje.
E em
cumprimento ao que Paulo escreve a Timóteo, temos visto diante de nossos olhos
a decadência da “igreja” dos últimos dias:
“Porque virá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme
as suas próprias concupiscências; E desviarão
os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Timóteo 4:3-4).
O
que seria, portanto, da verdadeira, santa e imaculada igreja de Cristo sem a APOLOGÉTICA?
Em
Cristo,
D.
S. Castro