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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Como explicar as inúmeras diferenças existentes entre as diversas traduções [e versões] modernas da Bíblia e as traduções [e versões] tradicionais? (1ª Parte)


Há cerca três anos, por questões que não mencionarei nesta postagem, senti a necessidade de realizar um estudo acerca das diferenças [no texto] existentes entre algumas traduções [e versões] modernas da Bíblia e as traduções [e versões] tradicionalmente aceitas pelos evangélicos de um modo geral e que, gradativamente vêm perdendo espaço para o primeiro grupo. Essas diferenças, sejam no uso de palavras distintas [supostamente imbuídas de mesmo significado], sejam na omissão de alguns termos ou sentenças [até mesmo frases inteiras] têm trazido, a meu ver, um enorme prejuízo à clara exposição do evangelho – sobretudo entre os adeptos das seitas [cristãs, principalmente] – bem como contribuído de maneira significativa com a crescente relativização doutrinária a imperar hoje no seio de grande parte das igrejas evangélicas.

Alguns certamente negarão que essas diferenças possam de fato causar qualquer embaraço à obra de evangelização, sobretudo à “evangelização comum” [Entenda-se por “evangelização comum” a evangelização daqueles que não pertencem efetivamente à qualquer grupo religioso pseudo-cristão ou a qualquer seita]. Outros até mesmo dirão que não se pode associar o relativismo e a confusão doutrinária muito presentes hoje no meio evangélico com “pouquíssimas” e “insignificantes” diferenças entre uma versão [ou tradução] e outra das Escrituras. Contudo, a conclusão a que tenho chegado após estes três anos de pesquisa sobre o tema é que o foco do problema relacionado ao relativismo [em todas as suas modalidades] a atingir a mente evangélica de hoje repousa exatamente nesta questão, pois se não pudermos ter absoluta certeza [isto é, a convicção] acerca das exatas palavras inspiradas por Deus e que compõem, portanto, o cânon das Sagradas Escrituras [o que nos fará valorizar a Palavra de Deus do mesmo modo que faziam os crentes do passado, os quais nutriam verdadeiro temor por ela], no mínimo, sua autenticidade e sua autoridade suprema em matéria de fé e prática para todo cristão estarão irremediavelmente ameaçadas. Vale ressaltar aqui, que quando me refiro às exatas palavras inspiradas e preservadas por Deus no cânon do Antigo e do Novo Testamento estou a falar das línguas originais (hebraico e grego, respectivamente), pois é na escolha dos manuscritos que servirão de base para as traduções que o problema – de fato – começa.

Confesso que se tornou demasiadamente incômodo para mim a constatação de que muitos crentes hoje, lamentavelmente, têm conseguido conviver [alguns por ignorância] com tamanha incerteza [insegurança] quanto às palavras inspiradas por Deus. Há aqueles que até mesmo aplaudem cada iniciativa proposta por instituições ditas cristãs (Editoras, Universidades, etc.) para o lançamento de uma nova versão [ou tradução] da Bíblia, supostamente com linguagem mais “apurada”, fiel a “exegese” e baseada nos “melhores manuscritos” [Tudo falácia, cujo único propósito são os adendos financeiros!]. No entanto, o que claramente se vê em nossos dias é a pouca importância que de fato tem sido concedida à exatidão e exclusividade da Palavra que, concomitantemente a este fato, tem se tornado para a grande maioria do povo evangélico em uma mera coleção de princípios éticos (ou morais) estabelecidos por Deus para que, cumprindo-os, o homem receba as bênçãos [em geral, materiais] que ali são prometidas. A ISTO têm sido reduzida por muitos a Santa, Perfeita e Suprema Palavra de Deus – aquela a quem Paulo chama de “o poder de Deus para a SALVAÇÃO de todo aquele que CRÊ” (Rm 1.16 – ACF/SBTB). Muitos “crentes” hoje, ainda que no discurso afirmem e reafirmem que creem na doutrina da Inspiração divina e da Suficiência das Escrituras [o que envolve os aspectos da preservação, da inerrância e da infalibilidade], na prática acabam deixando transparecer que de fato não acreditam na sobrenaturalidade da Palavra ou, no mínimo, colocam-na no mesmo nível das tradições humanas ou das experiências pessoais e espirituais. E o que mais choca é saber que muitos dos que hoje “têm traduzido a Bíblia para nós”, pensam desta forma!

Muito embora eu concorde que não seja este o único fator relevante a fomentar o relativismo doutrinário muito presente hoje entre nós evangélicos, essas DIFERENÇAS, em nada “insignificantes” e relativamente numerosas têm de fato atingido doutrinas fundamentais à fé cristã, conforme veremos posteriormente. Além disso, uma mínima discrepância entre duas ou mais traduções é mais do que suficiente para justificar a seguinte pergunta feita por uma mente sincera, honesta e criticamente sóbria: O que Deus realmente disse? (Isto é, o que realmente Deus inspirou aos autores humanos do Santo Livro para que escrevessem? Quais palavras? Teria Deus inspirado somente as ideias? [Bem... tudo isso, se Deus o permitir e, assim se fizer necessário, estaremos discutindo em breve].

Ainda com respeito ao prejuízo à evangelização, lembro-me, por exemplo, de um episódio relatado por um irmão que, ao tentar provar a uma testemunha de Jeová a divindade de Cristo fazendo uso da edição Revista e Atualizada de Almeida da Sociedade Bíblica do Brasil, acabou perplexo e ao mesmo tempo frustrado ao perceber que a referida edição, em numerosas passagens assemelha-se muito a Tradução Novo Mundo (a tradução utilizada pela seita). Conta o irmão que ao abrir sua Bíblia em Zacarias 12.10, na edição Atualizada, levou um “susto” ao perceber que o texto segue à semelhança da Tradução Novo Mundo. Entretanto, o irmão sabia que a passagem em questão é uma das mais contundentes provas da divindade de Cristo, apresentando-o como o próprio Jeová. Lamentavelmente, sem saber sobre as diferenças existentes entre uma versão e outra, o irmão saiu sem lograr êxito no debate. Para que o leitor entenda o que, de fato, ocorreu, transcrevo abaixo a passagem em ambas as traduções, bem como o texto a constar na edição Almeida Revista e Corrigida Fiel da SBTB [faça uma análise e tire suas próprias conclusões]:

E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de súplicas; olharão para AQUELE a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito”. (Zc 12:10 – Almeida Revista e Atualizada - SBB)

E eu vou derramar sobra a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém o espírito de favor e de rogos, e eles certamente olharão para AQUELE a quem traspassaram e certamente o lamentarão como no lamento por um [filho] único; e haverá lamentação amarga por ele como quando há lamentação amarga por um [filho] primogênito”. (Zc 12:10 – Tradução Novo Mundo - 1967)

Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão PARA MIM, a quem traspassaram; e pranteá-lo-ão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito”. (Zc 12:10 – Almeida Corrigida Fiel - SBTB)

O que não nos escapa aos olhos é o fato de que a expressão PARA MIM [hebraico: ELAY], no contexto da passagem, refere-se a Jeová, e isto prova, portanto, que Jesus é Jeová, pois Ele [Jesus] foi traspassado por nós (se não entendeu, leia a passagem com bastante calma!).

No entanto, o termo “AQUELE”, tanto na Atualizada como na Tradução Novo Mundo, não pode ser usado para provar que Jesus é Jeová.

O fato de ter eu mencionado neste exemplo verídico uma versão tão amplamente aceita e já consagrada no meio evangélico – a Almeida Revista e Atualizada – não foi mero acaso, pois há nela inúmeras passagens [sobretudo no Novo Testamento] em que se omitem expressões e sentenças significativamente importantes, bem como várias outras em que são feitas substituições de termos teologicamente consolidados por outros menos significantes e que acabam, ainda, dando margem a interpretações diversas. Além disso, a história desta edição é um tanto cheia de “atropelos” e antecipa um dos maiores projetos ecumênicos da Sociedade Bíblica do Brasil – a Bíblia na Linguagem de Hoje.

De fato, sou obrigado a concordar que não há tradução perfeita da Bíblia, mas apenas confiável (e isto cabe a nós julgar), uma vez que inspirados somente os escritos originais. No entanto, há métodos mais e menos apropriados de lidar com a tradução das Escrituras e, lamentavelmente, os menos apropriados têm sido utilizados para produzir uma gama de traduções e versões modernas, além de fontes [manuscritos] de qualidade altamente questionável. Tudo isso estaremos esclarecendo posteriormente [se Deus o permitir!]

Por hora, nos contentaremos em apresentar [próxima postagem] para análise dos nossos leitores uma “pequena” relação de referências bíblicas onde se observam diferenças significativas no texto de uma tradução e outra. Ao longo das próximas postagens estaremos analisando alguns dos prejuízos causados por várias versões e traduções modernas a algumas das principais doutrinas bíblicas.

Em Cristo,

D. S. Castro.

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