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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Fora do Arraial

Leitura: Hebreus 13:17
 
“Saiamos, pois, a ele [a Cristo], fora do arraial, levando o seu vitupério”.
 
Para muitos cristãos ainda associados a algum dos incontáveis sistemas denominacionais existentes hoje na cristandade, não parece muito clara a ideia de como alguém que também se diz cristão possa não pertencer a nenhuma dessas associações. Erroneamente, alguns creem que se uma pessoa não faz parte de um grupo específico de cristãos, devidamente identificado por uma espécie de “rótulo ministerial” – os assim chamados “ministérios denominacionais” – essa tal pessoa não está, de fato, vinculada a Cristo, pois não há qualquer menção nas Escrituras – afirmam os que defendem essa ideia – de que um cristão possa viver “isolado”.
 
Primeiramente, é importante deixar claro que toda essa confusão existente hoje na cristandade com respeito às inúmeras facções, partidos, seitas e denominações cristãs, com seus incontáveis ministérios e subdivisões, não tem qualquer respaldo ou fundamento bíblico e, embora Deus, por sua longanimidade para com o Seu povo – os santos, a Igreja – continue tolerando esses e outros abusos da carnal insensatez humana, Ele jamais aprovou a persistente afronta daqueles que insistem em manter-se partidários desses sistemas, mesmo depois – o que lhes agrava ainda mais a culpa – de terem sido confrontados com o mais claro e genuíno ensino das Escrituras expondo e condenando todo o erro por detrás desses sistemas ou ordens puramente humanas impostas sobre os membros do corpo de Cristo. É incontestável, por exemplo, pelo próprio contexto, a aplicação de 2 Coríntios 1:12 e 3:4 à enorme e lamentável confusão tão presente hoje no meio da cristandade. A mesma carnalidade que deu origem as divisões entre os coríntios, tem sido a causa das inúmeras divisões que por séculos têm afligido a Igreja de Cristo. Nenhuma denominação, seita ou partido cristão está isento, portanto, da culpa por este pecado, ainda que com as melhores intenções tenham elas sido estabelecidas por homens piedosos e tementes a Deus, mas que fracassaram – alguns por ignorância, outros por omissão – em dar este lamentável passo em direção contrária à perfeita vontade de Deus para o Seu povo, fomentando ainda mais este triste erro secular que nos tem privado da mais plena e genuína comunhão que deveria haver entre todos os membros do corpo de Cristo à semelhança do que será no céu (Mateus 6:10).
 
Em segundo lugar, aqueles que decidiram separar-se de toda essa confusão, cientes da desonra e do triste testemunho para o mundo que toda essa ordem humana tem trazido ao santo nome de Cristo, não o fizeram por que desejaram “isolar-se” como pode parecer aos que não têm tido a coragem necessária para pôr em prática aquilo que a Palavra de Deus estabelece como Sua perfeita vontade para os que desejam cumpri-la. Aliás, Deus está disposto a revelar Sua perfeita vontade, mas apenas aos que desejam pô-la em prática, e não àqueles que apenas desejam conhecê-la (João 7:17). Querer ‘conhecer’ não é suficiente, é preciso querer ‘fazer’! Em 2 Timóteo 2:20, ao apresentar a cristandade como uma ‘grande casa’ Paulo nos instrui a nos ‘purificarmos destas coisas’, para que sejamos ‘vasos para honra’. De que coisas devemos nos purificar? Certamente de tudo aquilo que desonra o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o que inclui toda esta confusão causada pelos ‘vasos de desonra’ também presentes na grande casa. Paulo nos diz ainda que somente um ‘vaso de honra’ está preparado para ‘toda boa obra’. Pergunto: Algum membro do corpo de Cristo, associado a um grupo cristão em particular poderá, em todos os aspectos, ter plena liberdade para tratar com os membros do corpo do Senhor atrelados a outro grupo distinto? Não creio que ele tenha essa liberdade e, portanto, em seu testemunho cristão ele não estará assim preparado para TODA boa obra que o Senhor queira usá-lo. ‘Purificar-se destas coisas’ significa, portanto, ‘separar-se’ da desordem presente na grande casa, contudo não para viver “isolado”, pois de fato a Bíblia não nos recomenda isto, embora em circunstâncias extremas não exista outra saída para os que querem cumprir a vontade de Deus e viver para a Sua glória. A Bíblia e a própria história registram incontáveis exemplos de homens que se levantaram contra tudo aquilo que desonrava o santo nome do Senhor e que, por isso, foram perseguidos, desprezados, e até mesmo torturados e mortos por decidirem não tomar parte naquilo que suas consciências expunham como um agravo à santidade que Deus requer de Seu povo. Eles pagaram um alto preço por decidirem ‘separar-se’ do erro. Quantos hoje estão dispostos a pagar esse preço e a mostrar que o ‘nascer de novo’ é uma questão de ‘natureza’ e não de afiliação a uma instituição ou ordem humana? Quantos?
 
Finalmente, a passagem da leitura (Hebreus 13:17) nos conclama a sairmos do que hoje poderíamos chamar de “arraial” da cristandade, com todos os seus ofícios e tradições, muito semelhantes ao que se via no arraial do judaísmo, e a sofrer o vitupério, isto é, a desonra que Cristo sofreu por romper com tudo aquilo que Sua morte na cruz anulou definitivamente. Contudo, devemos estar cientes de que assim como Cristo não recebeu a honra dos homens ao romper com aquelas tradições, também não receberão o louvor dos homens àqueles que decidirem separar-se desta confusão no atual “arraial” da cristandade. Pense nisso!
 
D. S. Castro.

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