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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Apologética (Cristã) é Prejudicial à Igreja?!

 

ALGUÉM COM QUEM DEBATI CERTO DIA, me disse um tanto indignado: "A Apologética é destrutiva, ela divide, causa inimizades, não contribui com o crescimento da igreja...".
 
Não exporei aqui a pessoa e nem a resposta que dei à sua infeliz declaração; apenas farei uma breve análise de seu posicionamento com respeito ao assunto à luz das Escrituras.
 
Em primeiro lugar, devo esclarecer que ao referir-se à Apologética, o autor desta “máxima” tinha em mente a Apologética Cristã, pois era disto que estávamos tratando.
 
Pois bem, a Apologética é de fato "destrutiva, divide, causa inimizades e não contribui com o crescimento da igreja"? A resposta não pode ser outra senão um uníssono "DE MODO ALGUM"!
 
Se isto é verdade, perguntamos: O quê a Apologética destrói exatamente? Em que sentido ela divide? Que espécie de inimizade ela causa? E por que ela seria um empecilho ao crescimento da igreja? As respostas serão dadas ao final do texto.
 
Em segundo lugar, devemos reconhecer que seria bastante estranho que a legítima defesa da fé cristã causasse tantos prejuízos ao Corpo de Cristo, visto que as Escrituras nos recomendam a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3). Portanto, ou a Bíblia está errada, ou os que pensam que a Apologética é um empecilho à causa de Cristo, de fato, não sabem o que ela representa e qual o seu propósito no compete à fé e à sã doutrina.
 
Ninguém honestamente poderia negar que o apóstolo Paulo foi um grande defensor da fé cristã e, portanto, um apologeta (talvez o maior de todos). Ele repreendeu aos cristãos coríntios por sua tentativa de formar “facções” dentro da igreja (1 Coríntios 1:12; 3:4); censurou energicamente os gálatas por estarem tentando, por meio da circuncisão, “justificar-se pelas obras lei”, aos quais também declarou que os que assim procediam “da graça haviam caído” (Gálatas 5:4); reprovou de igual modo a atitude dos colossenses por ainda insistirem em se apegar “aos rudimentos do mundo”, mesmo já havendo eles “morrido com Cristo” (Colossenses 2:20-23); exortou Timóteo a manter uma postura firme em defesa da fé e da sã doutrina (2 Timóteo 4:1-5), e assim por diante.
 
Paulo, sempre preocupado com as igrejas locais por onde passou, chegou até mesmo a dizer:
 
“Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Coríntios 12:15).
 
E aos efésios, o apóstolo dos gentios admoestou:
 
“Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:13-15).
 
Tito também foi enfático ao declarar:
 
“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes" (Tito 1:9).
 
Diante tais declarações (e de muitas outras), não nos parece razoável crer que a Apologética seja algo negativo no seio do verdadeiro cristianismo.
 
POR OUTRO LADO, sob uma perspectiva mais coerente com as Escrituras, podemos em certo sentido afirmar que a apologética realmente é “destrutiva”, “divide” e até mesmo “causa inimizades”, porém, ela jamais será um obstáculo para o crescimento da igreja. Pelo contrário, é o exercício da genuína Apologética que manterá a igreja pura e livre dos fermentos doutrinários daqueles que têm tentado perverter o Evangelho.
 
Mas alguém dirá: “Você não acabou de afirmar que a Apologética não é “destrutiva”, não “divide” e nem mesmo “causa inimizades”?”. Não se apresse... Isto não é linguagem ambígua!
 
Note que, sob a ótica bíblica, a Apologética pode ser considerada como “destrutiva” no sentido de que por meio de sua correta aplicação por aqueles a quem Deus levantou com o propósito de defender a fé, ela é capaz de aniquilar os ardilosos ensinos dos inimigos da Cruz; sua ação efetiva também poderá causar “divisão”, porém não no Corpo de Cristo; de fato, por meio de uma Apologética bíblica e responsável, os crentes fiéis serão verdadeiramente conhecidos dentre aqueles que furtivamente têm se infiltrado no seio da igreja para disseminar heresias de perdição (1 Coríntios 11:19; 2 Pedro 2:1, etc.). Além disso, a verdadeira Apologética cristã não está dissociada da pregação do genuíno Evangelho, de sorte que ela certamente produzirá “inimizade”, porém não entre os verdadeiros servos do Senhor, mas entre a igreja e o mundo (2 Coríntios 6:14; 1 Tessalonicenses 5:5; etc.).
 
Lamentavelmente, muitos “crentes” hoje já não valorizam mais este tão importante aspecto (na verdade, um dever) do testemunho cristão, a saber, a defesa da fé e da sã doutrina. A tolerância indiscriminada “dá o tom” do cristianismo atual. Poucos são os que com coragem e ousadia têm se levantado em defesa da pureza doutrinária. Vivemos em meio a uma geração cristã apática, acomodada, de braços cruzados. Muitos são os que, a despeito de se dizerem cristãos, não apenas têm promovido uma deplorável “unidade” que faz graves concessões a doutrinas fundamentais do Evangelho, como há tempos têm andado de mãos dadas com o pecado e o mundo. A esta eclética e antibíblica filosofia que impera em nossos dias o que importa de fato é unicamente a promoção de um amor subjetivo, cego e acrítico, onde não há mais lugar para o necessário exercício do juízo (com sobriedade e discernimento) sobre o pecado com vistas a corrigir os que andam no erro. O exemplo dos bereanos (Atos 17:11) já não é mais uma opção viável em meio a este lamentável cenário; sobretudo quando a conveniência fala mais alto.
 
Para os crentes fiéis, no entanto, a Apologética está longe de ser vista como prejudicial à igreja (como já destacamos acima), e embora tenha se tornado uma persona non grata para a “igreja” atual, e uma ameaça à unidade global que preparará o cenário para os acontecimentos finais, ela jamais foi tão necessária quanto hoje.
 
E em cumprimento ao que Paulo escreve a Timóteo, temos visto diante de nossos olhos a decadência da “igreja” dos últimos dias:
 
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas (2 Timóteo 4:3-4).
 
O que seria, portanto, da verdadeira, santa e imaculada igreja de Cristo sem a APOLOGÉTICA?
 
Em Cristo,
 
D. S. Castro 

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